domingo, 26 de junho de 2011

Mauro Piva, sem título, massa modelar, 2000.




















NADA

Toc! Toc! Não tem nada aqui, só uma pedra a rasgar-me por dentro. O rio que habita em mim já não derrama letra alguma. O olho secou, o lábio secou, a vida secou. O cheiro de mofo a impregnar-me as narinas, o sentimento de morte a avassalar o meu peito. Toc! Toc! O outro insiste. Tudo é secura, eu já disse. Secura sem verbo, secura da carne, secura. Só o formol a preservar o meu corpo, sem rosto, sem vida, sem nada. Tic-tac. Passa o tempo, nada a passar, só há falta. A falta a caminhar com o tempo; o tempo a apontar para morte. A vida é pétrea, disse o poeta. Nada me resta, nada é o que resta, só o fim permanece: penso comigo. A palavra exilou-se de mim, levando consigo a alegria, a tristeza. Ficou esta pedra a cavar-me um vale profundo, sem cor, sem dor, sem beleza, do tamanho da tampa que cobre o universo.  

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